O carnaval chegou ao Brasil por volta do século XVII influenciado pelas festas que aconteciam na Europa, com desfiles urbanos e fazendo uso de máscaras e fantasias; muitos personagens foram incorporados pelos brasileiros, como o rei Momo, pierrô, colombinas e carros alegóricos.
A primeira escola de samba do Rio de Janeiro chamava-se Deixa Falar, que, mais tarde, em 1935, passou a se chamar Estácio de Sá. Hoje temos formados dois grupos, chamados especiais, que desfilam madrugada adentro aparecendo com todos os detalhes na TV. O corso começou a acontecer por volta de 1900, dando margem a uma saudável animação de rua que antecedia aos grandes bailes, os quais, no Rio de Janeiro, aconteciam no Municipal, Monte Líbano, Copacabana Palace. Além da tradição e animação, compareciam aos bailes artistas como Brigite Bardot, Alberto Sordi, Elza Martinelli, Odile e Porfírio Rubirosa, trazidos pelo então colunista social Ibrahim Sued.
Nos anos 60, eu acompanhava o carnaval de Uberaba, onde, no início da noite, participava do chamado corso pelas ruas centrais, para, depois, entrar nos grandes bailes e curtir marchinhas como Jardineira, Me dá um dinheiro aí, Mamãe eu quero, Cidade Maravilhosa, Cabeleira do Zezé, Bandeira Branca, de Herivelto Martins, entre outras; era um esbaldar até a madrugada, com confetes, serpentinas, lança-perfume rodouro e bebida cuba libre, que nos empurravam para uma animação que deixou saudades. Não podemos nos esquecer do samba que pegava no pé e de cantores como Orlando Silva, Paulinho da Viola, Zé Ketti e outros, que mandavam o recado nas noites de carnaval. Compositores famosos, como Adoniram Barbosa, Cartola e até músicas de samba enredo, como Explode Coração, da escola Salgueiro, e Bum Bum Baticundum, da Mocidade Independente, ajudavam a compor o bonito cenário de uma festa cuja meta era cantar, sambar e se divertir a noite inteira. Nesses tempos existiam as chamadas “juras de amor no carnaval”, em que os participantes escolhiam se o namoro ou o ficar daquele momento terminaria ou não no carnaval. Haja promessas!
Nas minhas andanças, nos anos 70, pelo Golden Room do Copacabana Palace, fiquei na mesa do diretor polonês Roman Polansk e pude constatar a animação de um estrangeiro diante de tanto ritmo e da beleza da mulher brasileira.
No carnaval brasileiro havia as fantasias (para os concursos) e os trajes para grandes bailes – smokings, summers, sarong e colares havaianos –, formando um agradável conjunto de características marcantes. Mas não acabava por aí não, depois disso, ainda tinha por onde continuar, pois as boates, como a Le Bateau, conduzida pelo maître Luiz, famoso na época, recebiam os foliões que prolongavam seu fim de noite de maneira muito agradável, para, daí, ter a opção de ver o sol nascer nas belas praias do Rio.
Nos anos 70, as bandas continuavam a dar alegrias pela cidade maravilhosa, e a do bairro de Ipanema era uma delas, ao sair à tarde com batuques e personagens engraçados e às vezes travestidos, contagiando as ruas do bairro. Mas a modernização foi chegando e, no ano de 1984, ficava pronto o sambódromo do Rio de Janeiro, construído por Oscar Niemeyer na Marquês de Sapucaí; antes o carnaval era realizado na Av. Presidente Vargas, com arquibancadas montadas e desmontadas no final do evento. Já pelo interior, as escolas de samba até cresciam, mas os grandes bailes decresciam em razão da televisão e do sucesso das grandes capitais, com prefeituras fazendo propaganda dessas alegorias e chamando a todos para o turismo carnavalesco, era o que imperava. Hoje, vejo colegas confidenciando que o carnaval “já era” e que é uma festa para descanso. Vejo em meus filhos uma animação ainda plausível, mas querendo outros carnavais de outras capitais, como Salvador, Florianópolis e Recife, além de outros centros, para entrar nos dias de Momo sempre com a regalia de praia, uma tendência cada vez maior.
Queira Deus que essas festas tenham seu caminhar na modernidade, mas sem perder as características de divertir o povo, já que elas acontecem pelo mundo afora, proporcionando momentos de alegria e relaxamento; que todo esse contexto sirva sempre como alicerce aos povos para um mundo melhor, já que a felicidade e o sentir-se bem estão ligados a tempos saudáveis no trabalho e no lazer.
Dr. Nelson Sabino de Freitas
Presidente da APCD do Jardim Paulista